terça-feira, 13 de março de 2012

Os três tipos de tesouros




Histórico do Budismo

O budismo foi fundado na Índia há aproximadamente 2.500 anos por Siddharta Gautama ou Sakyamuni (560–480 a.C.). Nascido como príncipe, nas colinas ao sopé do Himalaia, Sakyamuni renunciou à vida secular para buscar respostas sobre as questões fundamentais da existência humana, ou seja, a razão dos chamados quatro sofrimentos da vida: nascimento, velhice, doença e morte. Durante anos, ele praticou austeridades, submentendo-se a uma disciplina rigorosa por acreditar que o caminho da iluminação estaria no desapego aos desejos mundanos que seriam a causa dos sofrimentos da vida.
Entretanto, com essas práticas não conseguiu encontrar respostas. Assim, acabou rejeitando-as e começou a dedicar-se à meditação até que finalmente chegou à iluminação, tornando-se Buda.
Logo após ter atingido o estado de Buda, a primeira preocupação de Sakyamuni foi sobre a compreensão das pessoas em relação ao seu ensino ou à Lei da vida. Durante cinco semanas, ele permaneceu sentado sob a árvore bodhi, onde atingira a iluminação, refletindo se deveria ou não ensinar o que havia descoberto aos outros.
A felicidade da humanidade era o principal objetivo de Sakyamuni. Seu maior desejo era mostrar o caminho da iluminação a todas as pessoas. Mas hesitava em fazê-lo porque percebia a ameaça de diferentes interpretações sobre a verdade a que havia chegado, e o ensino precisava ser preservado em sua essência.
Após o falecimento de Sakyamuni, o budismo foi primeiramente propagado em toda a Índia e depois nos países vizinhos, tomando duas direções distintas. Uma corrente propagou-se para o atual Sri Lanka, Mainmá, Camboja, Indonésia e outras regiões sul asiáticas. Essa corrente ficou conhecida como Budismo do Sul. A outra corrente difundiu-se pela Ásia Central até a China, passando depois para a Península Coreana e o Japão. Os ensinos que se propagaram nesses países são coletivamente denominados de Budismo do Norte.
Mesmo tendo sofrido certa influência cultural em seus costumes, o Budismo do Sul basicamente seguiu e transmitiu os princípios e rituais dos primeiros ensinos budistas desenvolvidos na Índia. Em contraste, o Budismo do Norte não somente sofreu influências culturais e nacionais como também teve grandes alterações no desenvolvimento de sua doutrina e de seus rituais.
A Índia e a Ásia Central foram os principais palcos de propagação do budismo durante os primeiros mil anos após a morte de Sakyamuni.
Nos primeiros quinhentos anos desse milênio, a crença no budismo foi praticada particularmente por monges e freiras indianos e seu ensino tinha como fundamento os sutras que enfatizavam a fidelidade aos preceitos. A segunda metade do milênio foi um período em que a propagação do budismo centralizou-se na região de Gandhara, nas proximidades da Ásia Central. Nessa região, os budistas davam ênfase à busca filosófica, estabelecendo complexos sistemas de teoria budista tais como o conceito da Não-Substancialidade (Kuu) e a doutrina da Somente Consciência. Esses budistas denominaram seus ensinos de Budismo Mahayana (grande veículo) e criticaram as escolas tradicionais, que centralizavam seus ensinos em preceitos, tachando-as de Hinayana (pequeno veículo).
Acredita-se que a história do budismo na China iniciou-se por volta de quinhentos anos após a morte de Sakyamuni. (Segundo a tradição budista, o budismo foi introduzido na China aproximadamente mil anos após o falecimento de Sakyamuni, pois se considera como o período de seu advento os quinhentos anos anteriores aos da data sugerida por estudiosos contemporâneos.) Mais ou menos quinhentos anos após a época em que o budismo foi introduzido na China, o Grande Mestre Tient’ai fez seu advento e estabeleceu a doutrina de Itinen Sanzen com base no Sutra de Lótus. Pouco tempo após o advento de Tient’ai, o budismo foi introduzido no Japão e, em seu período inicial de propagação, o Sutra de Lótus foi altamente reverenciado, mesmo ocupando uma posição inferior em relação aos outros ensinos budistas. O Grande Mestre Dengyo seguiu os passos de Tient’ai e esforçou-se para propagar a doutrina de Itinen Sanzen. Entretanto, após seu falecimento, a linhagem da escola que estava fundamentada no Sutra de Lótus foi interrompida e abandonada.
Segundo a tradição budista, acreditava-se que os Últimos Dias da Lei, que são os dois mil anos após o falecimento de Sakyamuni, iniciaram no século XI.
Como muitos seguidores esqueceram-se de que Sakyamuni era o fundador do budismo, novas escolas apareceram em sucessão, louvando os poderes de budas imaginários ou negando a necessidade de estudar a doutrina ou de realizar a prática do budismo. O verdadeiro espírito do budismo havia sido totalmente esquecido por volta do início do século XIII no Japão. Em meio a essa confusão, Nitiren Daishonin fez seu advento.
Por volta dessa mesma época, o budismo da Índia acabou sofrendo o impacto do islamismo da região oeste e desapareceu, embora esse budismo já viesse mantendo uma subsistência conjunta com o esoterismo desde a extinção dos sucessores de Sakyamuni no século VI. De forma semelhante, após a morte de Tient’ai, o budismo da China entrou em decadência, sendo corroído pela influência do esoterismo indiano e pela predominância da devoção do Buda Amida, que era uma derivação do próprio budismo. Além disso, a invasão da China pelos mongóis ocorrida no século XIII causou o total declínio do budismo. Durante esse período de gradativo declínio do Budismo do Norte, Nitiren Daishonin fez seu advento e estabeleceu os verdadeiros ensinos do budismo que viriam a iluminar a escuridão dos Últimos Dias da Lei.

Fonte:
Fundamentos do Budismo, pág. 116; Síntese do Budismo, pág. 10 : extra2.bsgi.org.br/extranet/estudo/histbudismo/historico-do-budismo/ 


A beleza transitória

Há muito tempo, quando o Buda Sakyamuni se encontrava no Pico da Águia, havia uma cortesã chamada Lótus, na cidade de Rajagriha. Ela era mais bela do que qualquer outra mulher da cidade, e não parecia haver ninguém que pudesse se igualar à sua beleza. Todas as mulheres a invejavam e todos os homens a adoravam. Por tudo isso, um dia, Lótus concebeu um desejo de iluminação e decidiu segregar-se dos assuntos mundanos, tornando-se uma freira budista.
Ela partiu para o Pico da Águia para visitar o Buda Sakyamuni. No caminho sentiu sede e parou num riacho de águas límpidas. Quando estendeu suas mãos para a água, ficou impressionada com o reflexo de seu rosto na superfície e foi cativada pela sua própria beleza. Seus olhos claros, seu nariz afilado, os lábios vermelhos, as maçãs rosadas, os cabelos exuberantes e a perfeita harmonia de suas feições combinavam completamente, convencendo-a de que era extraordinariamente bela. Ela pensou: "Que mulher bonita sou eu! Por que pensei em querer deixar de lado este corpo belo e viver como uma freira budista? Não, não farei isto. Com uma beleza como a minha, tenho certeza de que encontrarei a felicidade. Que idéia tola a de me tornar uma asceta." Imediatamente, ela virou-se e começou a retornar, pelo mesmo caminho.
No Pico da Águia, o Buda Sakyamuni havia assistido Lótus durante o tempo todo. Ele achou que estava na hora de ajudá-la a desenvolver o desejo de iluminação. Utilizando-se de seus poderes ocultos, o Buda se transformou numa mulher extraordinariamente bela, muito mais ainda do que Lótus, e a esperou no caminho de Rajagriha.
Desconhecendo a intenção do Buda, Lótus, enquanto imaginava vários prazeres mundanos, encontrou uma mulher desconhecida muito bonita no sopé de uma montanha. Atraída pela sua beleza, Lótus dirigiu-se espontaneamente a ela: "Você deve ser estranha por aqui. Para onde está indo completamente sozinha? Você não tem marido, filhos, irmãos? O que uma mulher tão bonita está fazendo aqui totalmente só." A desconhecida respondeu: "Estou voltando para a cidade de Rajagriha. Sinto-me tão solitária caminhando o trajeto todo. Se não for inconveniente, poderia acompanhá-la?"
As duas mulheres logo se tornaram muito amigas e viajaram juntas pela colina. Quando passaram por um pequeno lago, decidiram descansar um pouco. Sentaram-se na grama e conversaram por algum tempo. Enquanto Lótus falava, a outra mulher repentinamente adormeceu, com sua cabeça sobre os joelhos de Lótus. No momento seguinte, sua respiração cessou. Diante do olhar aterrorizado de Lótus, o corpo da mulher começou a degenerar, exalando um odor cadavérico. O corpo inchava grotescamente, a pele se rompia e as entranhas saíam, logo sendo infestadas por vermes. O cabelo da mulher morta caiu de sua cabeça, seus dentes e sua língua se separaram de seu corpo. Era realmente uma visão odiosa.
Vendo essa fealdade apavorante diante de si, Lótus ficou pálida, pensando: "Mesmo uma beleza celestial é reduzida a isso quando morre. Não obstante o quão confiante eu era de minha beleza, não tenho meios para saber por quanto tempo irá durar. Oh! Como fui estúpida! Devo procurar o Buda e buscar a iluminação." Então, Lótus dirigiu-se novamente ao Pico da Águia.
Chegando à presença do Buda, Lótus se atirou diante dele e relatou-lhe o que havia acontecido a ela no caminho até lá. O Buda fitou-a com benevolência e pregou-lhe os quatro seguintes pontos:
1) Todas as pessoas envelhecem;
2) Mesmo um homem muito forte infalivelmente morrerá;
3) Não importando quanto a pessoa viva feliz com sua família ou amigos, o dia da separação certamente virá;
4) Ninguém pode levar sua riqueza para o mundo após a morte.
Lótus compreendeu imediatamente que a vida é efêmera e que somente a Lei é eterna. Ela se aproximou do Buda e pediu-lhe que a aceitasse como sua discípula. Quando o Buda lhe deu a sua permissão, seus abundantes cabelos pretos caíram no mesmo instante e sua aparência transformou-se completamente na de uma freira budista. Desse momento em diante, ela se devotou sinceramente à prática budista e atingiu eventualmente o estágio de arhat, sendo qualificada a receber os oferecimentos e o respeito das pessoas.

Fonte:
Terceira Civilização — Maio/1985

A beleza transitória

Há muito tempo, quando o Buda Sakyamuni se encontrava no Pico da Águia, havia uma cortesã chamada Lótus, na cidade de Rajagriha. Ela era mais bela do que qualquer outra mulher da cidade, e não parecia haver ninguém que pudesse se igualar à sua beleza. Todas as mulheres a invejavam e todos os homens a adoravam. Por tudo isso, um dia, Lótus concebeu um desejo de iluminação e decidiu segregar-se dos assuntos mundanos, tornando-se uma freira budista.
Ela partiu para o Pico da Águia para visitar o Buda Sakyamuni. No caminho sentiu sede e parou num riacho de águas límpidas. Quando estendeu suas mãos para a água, ficou impressionada com o reflexo de seu rosto na superfície e foi cativada pela sua própria beleza. Seus olhos claros, seu nariz afilado, os lábios vermelhos, as maçãs rosadas, os cabelos exuberantes e a perfeita harmonia de suas feições combinavam completamente, convencendo-a de que era extraordinariamente bela. Ela pensou: "Que mulher bonita sou eu! Por que pensei em querer deixar de lado este corpo belo e viver como uma freira budista? Não, não farei isto. Com uma beleza como a minha, tenho certeza de que encontrarei a felicidade. Que idéia tola a de me tornar uma asceta." Imediatamente, ela virou-se e começou a retornar, pelo mesmo caminho.
No Pico da Águia, o Buda Sakyamuni havia assistido Lótus durante o tempo todo. Ele achou que estava na hora de ajudá-la a desenvolver o desejo de iluminação. Utilizando-se de seus poderes ocultos, o Buda se transformou numa mulher extraordinariamente bela, muito mais ainda do que Lótus, e a esperou no caminho de Rajagriha.
Desconhecendo a intenção do Buda, Lótus, enquanto imaginava vários prazeres mundanos, encontrou uma mulher desconhecida muito bonita no sopé de uma montanha. Atraída pela sua beleza, Lótus dirigiu-se espontaneamente a ela: "Você deve ser estranha por aqui. Para onde está indo completamente sozinha? Você não tem marido, filhos, irmãos? O que uma mulher tão bonita está fazendo aqui totalmente só." A desconhecida respondeu: "Estou voltando para a cidade de Rajagriha. Sinto-me tão solitária caminhando o trajeto todo. Se não for inconveniente, poderia acompanhá-la?"
As duas mulheres logo se tornaram muito amigas e viajaram juntas pela colina. Quando passaram por um pequeno lago, decidiram descansar um pouco. Sentaram-se na grama e conversaram por algum tempo. Enquanto Lótus falava, a outra mulher repentinamente adormeceu, com sua cabeça sobre os joelhos de Lótus. No momento seguinte, sua respiração cessou. Diante do olhar aterrorizado de Lótus, o corpo da mulher começou a degenerar, exalando um odor cadavérico. O corpo inchava grotescamente, a pele se rompia e as entranhas saíam, logo sendo infestadas por vermes. O cabelo da mulher morta caiu de sua cabeça, seus dentes e sua língua se separaram de seu corpo. Era realmente uma visão odiosa.
Vendo essa fealdade apavorante diante de si, Lótus ficou pálida, pensando: "Mesmo uma beleza celestial é reduzida a isso quando morre. Não obstante o quão confiante eu era de minha beleza, não tenho meios para saber por quanto tempo irá durar. Oh! Como fui estúpida! Devo procurar o Buda e buscar a iluminação." Então, Lótus dirigiu-se novamente ao Pico da Águia.
Chegando à presença do Buda, Lótus se atirou diante dele e relatou-lhe o que havia acontecido a ela no caminho até lá. O Buda fitou-a com benevolência e pregou-lhe os quatro seguintes pontos:
1) Todas as pessoas envelhecem;
2) Mesmo um homem muito forte infalivelmente morrerá;
3) Não importando quanto a pessoa viva feliz com sua família ou amigos, o dia da separação certamente virá;
4) Ninguém pode levar sua riqueza para o mundo após a morte.
Lótus compreendeu imediatamente que a vida é efêmera e que somente a Lei é eterna. Ela se aproximou do Buda e pediu-lhe que a aceitasse como sua discípula. Quando o Buda lhe deu a sua permissão, seus abundantes cabelos pretos caíram no mesmo instante e sua aparência transformou-se completamente na de uma freira budista. Desse momento em diante, ela se devotou sinceramente à prática budista e atingiu eventualmente o estágio de arhat, sendo qualificada a receber os oferecimentos e o respeito das pessoas.

Fonte:
Terceira Civilização — Maio/1985